A CHEGADA DO ANO VELHO DE 2014
Por Fernando R. F. de Lima.
Vai chegando mais um ano e as perspectivas no
horizonte brasileiro continuam tão sombrias quanto estavam no final de 2012. Além
da grande piada, seguida de desgraça, que foram as manifestações no meio do
ano, nada de novo ocorreu mais uma vez, e nós continuamos nossa longa marcha em
direção ao brejo. Certa vez, ouvi um ditado que dizia que a primeira medida a
tomar quando se chega ao fundo do poço é parar de cavar. O Brasil e os
brasileiros, contudo, continuam cavando o buraco onde nos enterramos ano após
ano.
Do ponto de vista pessoal, nosso otimismo
instintivo nos leva a crer que 2013 foi um bom ano. Mas adotando um ponto de vista
mais analítico, vemos que este foi um ano de grandes tragédias. Primeiro o
rompimento geral com o compromisso da estabilidade de preços, que já havia sido
anunciado ainda em 2010, e veio se arrastando de lá para cá. Os controles de
preços, que vínhamos acusando neste blog como deletérios, finalmente
deterioraram de vez o caixa da petrossauro, a balança comercial e até o
relativo equilíbrio da moeda. De agora em diante, será necessária uma
verdadeira revolução verde para que o agronegócio consiga reequilibrar as
contas externas, o que é, obviamente, uma impossibilidade.
A economia como um todo está desequilibrada,
com redução forte no ritmo de crescimento do consumo, de expansão do crédito,
de aperto generalizado nas contas públicas (nos três níveis, federal, estadual
e municipal), e futuras restrições na renda das famílias já começam a aparecer.
A corrupção generalizada continua imperando, infiltrada até mesmo nos ditos
programas sociais, que mantinham uma aura de santidade.
Em matéria de educação, saúde, transporte,
segurança, também não fizemos nenhum progresso digno de nota. Na verdade, além
de não vermos progressos, podemos até falar em retrocessos. No caso dos
transportes, acidentes graves só aumentam, sem que as autoridades competentes
façam coisa alguma para muda-los. Nos transportes coletivos, um novo viés
populista ameaça desestruturar de vez o que já foi conquistado, através de
aumentos nos subsídios e distorções ainda maiores na relação custo vs.
qualidade.
E que teremos para o próximo ano? A princípio,
uma copa do mundo, que deixará como legado um série de dívidas e de processos
por corrupção, que resultarão em nada, e de enriquecimento ilícito de cartolas,
políticos e empreiteiros. Esta copa também deixará para trás um ano escolar
picotado, eventualmente até 8 feriados a mais, menos produção, e certamente um
saldo maior de mortos e feridos nos excessos festivos.
Também teremos um ano eleitoral, que fará com
que a máquina pública, que já trabalha com dificuldades, tenha ainda menos
condições de executar algo por contas das restrições eleitorais. E ano de
eleição significa gastos com coisas pouco produtivas, caixa dois, escândalos,
vendas de partidos, candidatos e compra de votos e almas. Serão mais dois meses
perdidos.
E isto tudo para termos como opção na urna
três prováveis candidatos absolutamente incapazes de fazer qualquer coisa para
mudar o cenário atual. É mais um ano que será jogado na lata de lixo da
história, porque não conseguiremos sequer realizar um debate minimamente sério
sobre uma reforma política, sobre uma reforma eleitoral, sobre uma reforma
trabalhista, sobre nada, enfim. Um ano que, na melhor das hipóteses, será um
ano perdido. Com isso, acumularemos mais um ano, quatro nesta década que se
iniciou em 2011. Meia década e o Brasil continuará encalhado no mesmo lugar
onde estava em 2010.
Nada disto que estou falando implica
pessimismo de minha parte. Estou apenas sendo realista. Não estou dizendo que
as coisas irão piorar. Ficarão como estão, provavelmente, alterando em nada o
estado geral do gigante adormecido em berço esplêndido, que alguns idiotas
deram por acordado no meio deste ano. No fundo, nosso povo continua o mesmo,
fazendo e vivendo como nossos pais (para lembrar Belchior), sem qualquer
perspectiva de mudança. Sendo assim, me recuso a desejar a todos um feliz ano
novo, porque 2014 já nascerá velho, caduco, tardio. Já vai tarde 2014. Feliz
2015 para todos nós. Espero que este sim seja um verdadeiro ano novo. Em
dezembro próximo espero reencontrá-los com perspectivas melhores.
Comentários
O problema maior desse pais é o povo e a cultura do brasileiro, que faz tudo nas coxas e na incerteza da impunidade.
Exemplo ? Mais um... os postos de minha cidade, Goiânia, aumentaram pela 3a vez nos ultimos 4 meses os preços dos combustiveis, tudo ao mesmo tempo sincronizado, mesmo com o ministerio publico tendo apurado aumento abusivo no ultimo aumento a 1 mes atrás !!! Estou iradissimo e irritado ao extremo com isso e tudo de errado que somos obrigados a ver todo dia !