A NOVELA DAS CONCESSÕES NO GOVERNO DO PT
Fernando R. F. de Lima
A primeira rege as concessões comuns, que são
aqueles em que a remuneração da concessionária ocorre única e exclusivamente
pela cobrança de tarifas. A segunda lei foi elaborada para as Parcerias
Públicas Privadas, que são um modelo de concessão em que a remuneração da
concessionária pode ser mista (parte por tarifas, parte pelo caixa do Estado)
ou integralmente pelo caixa do Estado. No primeiro caso, são concessões
patrocinadas, e no segundo caso, concessões administrativas.
Dada esta introdução, temos que ter em mente
que a concessão de um serviço público ocorre quando o Estado não tem meios
financeiros de realizar uma determinada obra ou prestar um serviço, dispondo da
possibilidade de conceder este serviço a um parceiro privado. A concessionária,
no fundo, não é exatamente uma empresa que presta um serviço público, mas algo
como um banco que empresta dinheiro ao poder público e executa o serviço.
Isto porque a remuneração da concessionária é
definida com base numa Taxa de Retorno (especificamente TIR, taxa interna de
retorno), que é como se fosse a taxa de juros cobrada pela administração do
empreendimento. Quando se diz que a TIR será de 7% ou 8%, o que se quer dizer é
que aquele contrato pagará isto de retorno pelo montante investido, ao longo do
prazo de concessão. Este montante é definido a partir dos custos atribuídos a
atividade, ao capital utilizado para fazer frente aos desafios do
empreendimento, e ao risco inerente à atividade.
Por isso, se a concessionária do serviço
conseguir reduzir seus custos, seja pelo maior uso de capital próprio, seja
pela adoção de novas tecnologias, a TIR contratual continuará a mesma, mas sua
remuneração pode, em termos reais, ficar acima da TIR contratual sem que isso
configure quebra de contrato. Do mesmo modo, se a empresa incorrer em custos
superiores decorrentes de falhas de gestão, sua TIR pode ficar abaixo da
contratual, sem implicar revisão de contratos. A empresa, portanto, “compra” o
risco pela operação. Qualquer um que faça isso o faz pensando em ter o maior retorno
possível.
O problema do governo federal é que eles acham
que as empresas prestadoras de serviços públicos deveriam ser agentes de
caridade, que deveriam prestar um serviço de empresa privada sem querer ter
lucro. Ou seja, os contratos que estão sendo propostos pelo governo, o fundo
desejam que as concessionárias que vão operar rodovias e ferrovias não tenham
lucro acima do estabelecido pela taxa do contrato. Ou seja, se a TIR for de 8%,
elas não podem ganhar mais que isso. Preferencialmente, deveriam ganhar menos.
Os supostos técnicos do PT, por terem
criticado fortemente as concessões realizadas pelo PSDB, não querem que as
empresas vencedoras de seus leilões tenham retorno pelo negócio. Porque,
afinal, isto seria reconhecer que as concessões do PSDB foram o melhor modelo
possível para gestão de rodovias. Também querem inventar um novo modelo de
concessão ferroviária, que sequer está previsto na legislação existente. Tudo
para evitar o “lucro abusivo”, que é o mesmo que qualquer lucro.
Agora, caros leitores, se as empresas do
Brasil e exterior não estão sequer topando administrar rodovias que já estão
construídas e possuem uma demanda regular e bem palpável por seus serviços,
quem dirá construir e administrar ferrovias que não existem, a não ser como
devaneios de alguns membros do alto escalão do governo federal. Isto significa
que o grande salto possível com os investimentos em infraestrutura, que um
economista anteviu outro dia destes na Folha de S. Paulo, provavelmente não irá
acontecer. E só aconteceria se o capital empregado nestas concessões obtivesse
uma produtividade maior que aquele utilizado em qualquer outra atividade.
Investimento em infraestrutura para ser bom para o país tem que ser lucrativo, ter
boas taxas de retorno. Qualquer investimento assim. Senão, é apenas desperdício
de um recurso caro e escasso, que demora tempo para ser acumulado, mas
facilmente se esvai quando más decisões são tomadas.
Como capitalistas do capital alheio não
compreendem que riqueza é fruto do esforço e trabalho (muitas vezes é dinheiro
de milhões de pensionistas acumulados em fundos bilionários) acham que qualquer
um que se negue a participar de suas tramoias é, automaticamente, um safado.
Enquanto esta visão prevalecer, os investidores se manterão longe dos leilões
do governo federal. Ao menos dos mais suspeitos.
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