MINHA OPINIÃO SOBRE A CRACOLÂNDIA E OS NÓIAS

Fernando R. F. de Lima
Quem me conhece sabe que eu sou a favor da liberação das drogas. Liberação total e irrestrita, eventualmente com regulação pública, como ocorre com o cigarro e em menor escala com o álcool. O abuso de drogas é um problema social grave, mas o modo como a ilegalidade na produção e distribuição desta mercadoria corrompe as instituições públicas é, na minha opinião, um problema ainda mais grave.
A corrupção policial é um problema que decorre da própria natureza corruptível do ser humano. Isto significa que mesmo no mais perfeito sistema de controle sobre a conduta policial, haveria, ainda assim, brechas para que uma conduta corrupta se manifestasse. No caso das drogas, o convívio dos policiais com os corruptores é demasiado intenso, e as punições aos criminosos severas ao ponto de fazer com que a tentativa de corromper valha muito a pena. 
Outro problema da proibição das drogas é que o combate aos traficantes e a restrição à importação e à produção faz com que seus preços subam. Isso eleva os preços das drogas e faz com que os traficantes, tendo em vista o elevado risco de sua prática comercial, tenham que trabalhar com margens muito elevadas para poder suportar as perdas impostas pelo Estado. Além disso, as margens elevadas atraem muitos competidores que procuram abocanhar parte destas margens, o que eleva a violência. Além disso, o glamour que os traficantes de sucesso acabam atingindo, incentiva milhares de crianças e adolescentes a entrar neste ramo, imaginando um dia poder atingir tal posição, que só será alcançada pelos mais violentos e perspicazes, e que deixará um rastro de sangue e destruição no caminho.
Os consumidores de droga, por outro lado, são em sua grande maioria usuários eventuais. Assim como ocorre com o álcool, não são os "nóias" perdidos nas cracolândias que sustentam o tráfico. Em geral eles são muito pobres ou estão degradados para conseguir manter o fluxo de caixa do traficante. Quem mantém o tráfico são os usuários eventuais, que dificilmente "abusam" das drogas, e usam de forma contínua, mas ainda assim controlada, durante vários anos, nas várias festas que frequentam e pouco se importam de pagar alguns reais a mais por grama quando a dificuldade em obter a droga aumenta. Do mesmo modo que quem mantém a Ambev ou Femsa são os consumidores eventuais de classe média e não os alcoólatras, assim é com o tráfico.
Pensando desta forma, qual seria o efeito da liberação das drogas sobre os "nóias"? A única mudança que consigo vislumbrar é uma queda no preço que eles pagariam para obter a droga. Só isso. Nenhum outro efeito. Qual seriam os efeitos sociais? Certamente seriam desmontados os grandes esquemas de corrupção policial e a violência nas grandes cidades diminuiria consideravelmente. Com a queda no preço, alguns poucos fabricantes iriam acabar dominando o mercado das drogas, assim como acontece com o tabaco e as bebidas hoje, e as grandes somas que poderiam ser arrecadadas com impostos poderiam financiar o tratamento dos usuários que realmente quisessem passar por um processo de desintoxicação.
Até agora, portanto, não abordei o tema do texto, que é minha opinião sobre as cracolândias. Acho que o governo Alckmin está certo em desmobilizar os usuários de crack e impedi-los de ocupar uma rua da cidade para atender aos seus fins de consumo. Por mais que o consumo em si não seja um problema, a concentração da degradação urbana em alguns lugares trás inúmeras externalidades indesejáveis para toda sociedade, além de estimular a criminalidade nestes locais. O Estado tem o dever de garantir o direito de ir e vir nas vias públicas a todos os cidadãos, e não apenas aos "nóias" que se apropriam de um espaço público como se fosse privativo deles.
Deste modo, mesmo acreditando que as drogas não são o verdadeiro problema (uma vez que mesmo proibidas continuam a ser consumidas), sou absolutamente contra a ocupação das vias públicas pelos drogados, uma vez que o que é público deve ser todos e não terra de ninguém.
Fernando R. F. de Lima
www.democraciaeliberdade.blogspot.com
Homo sum humani nihil a me alienum puto

Comentários

INTERCEPTOR disse…
Fernando,

Quando comecei a ler teu texto, eu estava pronto para esboçar uma crítica dizendo que "o verdadeiro problema não é este", o da liberação ou não delas, mas sim dos efeitos indesejáveis do uso da mesma. Mas ao ler os teus dois últimos parágrafos, tu acabou tirando as palavras de mim, pois é exatamente disto que se trata, o lugar e a ocupação de uma área pública como se fosse um gueto, uma particularização indevida do espaço.

"(...) Acho que o governo Alckmin está certo em desmobilizar os usuários de crack e impedi-los de ocupar uma rua da cidade para atender aos seus fins de consumo. Por mais que o consumo em si não seja um problema, a concentração da degradação urbana em alguns lugares trás inúmeras externalidades indesejáveis para toda sociedade, além de estimular a criminalidade nestes locais. O Estado tem o dever de garantir o direito de ir e vir nas vias públicas a todos os cidadãos, e não apenas aos "nóias" que se apropriam de um espaço público como se fosse privativo deles.
Deste modo, mesmo acreditando que as drogas não são o verdadeiro problema (uma vez que mesmo proibidas continuam a ser consumidas), sou absolutamente contra a ocupação das vias públicas pelos drogados, uma vez que o que é público deve ser todos e não terra de ninguém."

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